Ética no pensamento protestante
luzes sobre a relação justificação e obras
Resumo
A doutrina da justificação pela graça mediante a fé ocupou lugar seminal na Reforma Protestante cuja eclosão se deu com o padre agostiniano Martinho Lutero, no ano de 1517, em Wittenberg. Para o reformador alemão, o evento salvífico tem caráter unilateral, quer dizer, é um ato singular operacionalizado pela graça de Deus, portanto, exclui qualquer contribuição humana, que apenas a recebe gratuitamente pela fé. Assim, o ser humano é inteiramente passivo no processo que culmina na sua salvação e/ou justificação. Todavia, esta compreensão soteriológica luterana, trouxe perturbações não apenas no horizonte dos debates teológicos, assim como, éticos. Grosso modo, a polêmica emerge da questão: se o humano é salvo por graça, significa que não necessita realizar boas obras? Ou, de modo mais radical: a fé na justificação pela graça compromete e anula a exigência ética? Nosso artigo analisa tais questões. Partindo de uma investigação bibliográfica dos escritos de Martinho Lutero, Dietrich Bonhoeffer e Jürgen Moltmann, que envolvem a temática justificação e ética, encontramos como resultado as seguintes constatações: a) justificação pela graça e as boas obras não implicam em doutrinas contraditórias, se respeitado a diferenciação contextual entre soteriologia e ética, em que ambos são refletidos; b) o pensamento protestante não se ocupa apenas com a dimensão teológica, mas alberga uma exigência da ética como práxis; c) no pensamento protestante, a ética é fundamental para as relações humanas, principalmente, do humano que se apresenta como discípulo/a de Jesus Cristo, logo, ser cristão é ser ético.
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